Águas do São Francisco chegam ao RN ainda em agosto
- Bolin Divulgações

- 5 de ago.
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Atualizado: 6 de ago.

Com início oficial da operação realizado nesta terça-feira (5), as águas do Rio São Francisco começaram a ser liberadas rumo ao Rio Grande do Norte. A expectativa é que entre os dias 18 e 22 de agosto, o fluxo chegue à divisa entre o estado potiguar e a Paraíba, iniciando uma nova etapa na segurança hídrica do semiárido nordestino.
A liberação foi autorizada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional e simboliza não apenas o avanço de uma das obras mais emblemáticas do país, mas também a realização de um sonho antigo da população nordestina, particularmente da potiguar. Com uma vazão inicial de 10 mil litros por segundo (10 m³/s), a água saiu da Estação de Controle Caiçara, localizada no sertão paraibano, após ter percorrido 239 km de estruturas do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), vindas desde Cabrobó (PE). A partir desta quarta-feira (6), o volume aumenta para 12,5 m³/s, dos quais 10 m³/s serão destinados ao RN.
A governadora Fátima Bezerra celebrou a conquista: “Vale a pena sonhar, lutar e realizar um sonho que não é só meu enquanto nordestina e governadora. Agora é de verdade a chegada das águas do rio São Francisco ao Rio Grande do Norte, trazendo ao nosso sertão esta imensa contribuição rumo à segurança hídrica.”
O percurso completo até o território potiguar compreende cerca de 412 km de obras de engenharia hídrica. Ao cruzar a fronteira entre a Paraíba e o RN, o fluxo será destinado inicialmente à Barragem de Oiticica, em Jucurutu, e posteriormente à Armando Ribeiro Gonçalves, o maior reservatório do estado. Com um cronograma de operação de 132 dias, o volume total estimado para ser entregue ao RN é de 46,3 milhões de metros cúbicos, com vazão média de 4,06 m³/s.
O secretário estadual de Recursos Hídricos, Paulo Varella, destacou a importância da chegada das águas em termos de planejamento e impacto:“Hoje é um dia histórico. As águas do Rio São Francisco iniciam sua caminhada definitiva em nossa direção […] Esta água tem um destino certo: garantir segurança hídrica para milhares de famílias, especialmente no Seridó.”
Além das barragens, a Adutora do Seridó também integra o plano de distribuição, permitindo o abastecimento de cidades como São Vicente, Florânia, Caicó, Cruzeta e outras. A obra, em fase avançada, tem previsão de entrega para o início de 2026.
Caminho longo
A chegada das águas é um capítulo importante de um projeto que remonta ao século XIX, mas que só foi efetivamente tirado do papel durante os governos do ex-presidente Lula. Ainda assim, o processo tem sido marcado por lentidão, entraves técnicos e disputas políticas.
Apesar da intensa propaganda promovida por Jair Bolsonaro (PL) durante seu governo, inclusive com inaugurações simbólicas no Nordeste, documentos oficiais do Ministério do Desenvolvimento Regional revelam que apenas 1,74% da execução da obra ocorreu sob sua gestão. Quando assumiu a presidência em 2019, 96,9% da transposição já havia sido concluída. A informação consta em relatórios internos obtidos pela imprensa.
Durante sua visita à cidade de Jucurutu, em fevereiro de 2022, Bolsonaro participou de um evento que anunciava a chegada das águas. Contudo, a cerimônia terminou sem que o fluxo tivesse sequer alcançado a barragem. À época, uma fonte que acompanha o projeto relatou:“É uma mentira que concluíram as obras do São Francisco. […] O Rio Piranhas não foi limpo, as bacias receptoras não foram preparadas e o governo federal não investiu no saneamento básico das 147 cidades que fazem parte da Bacia Hidrográfica Piancó-Piranhas-Açu.”
Ainda hoje, a estrutura local carece de diversas adequações para que o recurso hídrico seja plenamente aproveitado pelas comunidades. Segundo o IGARN, os custos de operação e manutenção são altos e estão em debate no âmbito estadual, com o objetivo de proteger o pequeno e médio agricultor dos impactos financeiros.
Debate público
Em 2023, o assunto voltou à pauta na Assembleia Legislativa do RN, durante audiência pública realizada no município de Apodi. Proposto pelo deputado estadual Neilton Diógenes (PL), o encontro foi parte da programação do 5º Fórum das Águas e abordou os desdobramentos da transposição para o Alto Oeste potiguar.
“A transposição das águas do Rio São Francisco representa vida para o nosso povo, porém necessita que avancemos no debate maduro e técnico, visto a sua grandiosidade e importância”, afirmou o parlamentar.
O evento reuniu lideranças políticas, pesquisadores, técnicos e representantes de organizações rurais, que cobraram agilidade na integração do perímetro irrigado à Chapada do Apodi. O Ramal Apodi-Mossoró, trecho estratégico do projeto, ainda está com apenas 31% das obras concluídas e deve ser entregue somente em outubro de 2025, segundo o Ministério da Integração.
Na mesma linha, o túnel construído no município de Major Sales, que visa abastecer a região do Alto Oeste, está com 80% das obras concluídas, com previsão de operação até abril de 2026.
Um novo ciclo
Ainda que haja pendências estruturais e um histórico marcado por tentativas de apropriação política da transposição, a chegada efetiva das águas ao RN inaugura um novo capítulo. Além de combater a escassez no semiárido, a iniciativa traz consigo a esperança de desenvolvimento para regiões há muito esquecidas nas políticas de infraestrutura hídrica.
Enquanto as águas percorrem seu caminho, a sociedade civil, o poder público e os movimentos sociais têm o desafio de garantir que este recurso essencial seja distribuído de forma justa, sustentável e inclusiva.




