A um passo do sonho: Cabo Verde pode se classificar pela 1ª vez à Copa do Mundo. Saiba mais!
- Bolin Divulgações

- 13 de out.
- 4 min de leitura
Com campanha quase impecável e sob o comando longevo de Bubista, os “Tubarões Azuis” podem garantir a vaga inédita; classificação coroa um projeto que uniu ilhas, imigrantes e gerações

A Copa do Mundo de 2026 pode marcar um novo capítulo no futebol africano. Cabo Verde, pequeno arquipélago de pouco mais de meio milhão de habitantes, está a uma vitória de garantir sua primeira participação na história do torneio. A seleção, conhecida como os Tubarões Azuis, enfrenta Essuatíni, nesta segunda-feira (14/10), e depende apenas de si para confirmar o feito inédito.
O time lidera o Grupo D das Eliminatórias Africanas, com 20 pontos, dois a mais que Camarões. A vitória já garante a classificação direta. Mesmo um empate, ou até uma derrota, pode bastar (desde que os camaroneses não vençam Angola em Yaoundé). O cenário é o desfecho de uma campanha quase impecável, com seis vitórias, um empate e uma única derrota em oito partidas.
passo decisivo foi dado contra o tradicional Camarões. No Estádio Nacional de Praia, o atacante Dailon Livramento, de 24 anos, arrancou do meio-campo, driblou a defesa e marcou o gol da vitória por 1 a 0, um lance que ficou marcado como o símbolo da virada de uma geração.
Um time forjado no Atlântico e no mundo
A trajetória de Cabo Verde é também uma história de identidade. O elenco atual reflete a própria diáspora cabo-verdiana: 14 dos 25 convocados nasceram fora do país, sendo seis em Roterdã, cidade portuária da Holanda que abriga uma das maiores comunidades de imigrantes do arquipélago. Há ainda cinco atletas nascidos em Portugal, dois na França e um na Irlanda.
Essa estratégia de “repatriar filhos da diáspora” é uma tendência crescente entre seleções africanas, mas em Cabo Verde tornou-se uma filosofia. O futebol português é o principal fornecedor de talentos, com seis jogadores convocados, seguidos por nomes que atuam na Turquia, Arábia Saudita, Estados Unidos e ligas menores da Europa.
Em meio à busca por reforços, uma história inusitada ganhou destaque: o zagueiro Logan Costa, do Villarreal, foi contatado por intermediários que o descobriram em uma rede social profissional pelo LinkedIn. “É um exemplo de como esse projeto é movido por criatividade e persistência”, comenta o jornalista Luis Fernando Filho, especialista em futebol africano e criador das páginas Africa Mamba e Ponta de Lança.
O atacante dançarino e o técnico que virou símbolo nacional
Entre as histórias que moldam a alma dessa equipe, nenhuma é tão curiosa quanto a de Livramento, o herói contra Camarões. Nascido em Roterdã, ele chegou a abandonar o futebol aos 12 anos para dedicar-se à dança. “Eu amava música. Admirava Ronaldinho, mas também Michael Jackson. Decidi parar de jogar para dançar. Meus pais me apoiaram”, contou ao jornal italiano La Gazzetta dello Sport. Um ano depois, voltou aos gramados e, ironicamente, ao caminho para a Copa do Mundo.
Enquanto isso, o técnico Bubista representa a face da paciência e da construção coletiva. No comando desde janeiro de 2020, ele acumula mais de 2 mil dias no cargo, com 55 jogos (26 vitórias, 12 empates e 17 derrotas). Sob sua liderança, Cabo Verde alcançou as quartas de final da Copa Africana de Nações em 2023, repetindo o feito de 2013, e chega à beira da Copa com sete jogos de invencibilidade.
“Nem sempre enfrentamos equipes abertas, às vezes jogam com linhas muito baixas. Temos que encontrar soluções, mas a equipe tem crescido muito. Demonstra a qualidade e o esforço dos jogadores”, afirmou o treinador.
Um país inteiro em contagem regressiva
O clima em Cabo Verde é de contagem regressiva. No último jogo em casa, o governo decretou tolerância de ponto, liberando servidores para acompanhar a partida. Após a vitória, a torcida invadiu o gramado em festa e o gesto espontâneo custou à federação local uma multa de 5 mil francos suíços (cerca de R$ 33 mil), aplicada pela Fifa.
Ainda assim, o impacto foi positivo. A seleção subiu ao 70º lugar no ranking mundial da entidade, com 1363 pontos, sendo a 13ª melhor da África. “Os jogadores têm sido heróis. Este momento mostra o quanto o futebol pode unir o nosso povo”, celebrou Bubista.
Um olhar brasileiro sobre o sonho de Cabo Verde
O magnetismo do momento ultrapassou fronteiras. O jornalista e influenciador brasileiro Daniel Braune, que soma mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais, viajou até a África para acompanhar in loco o possível feito histórico da seleção de Cabo Verde.
“A viagem da minha vida já começa com um dos momentos mais mágicos da minha vida assim que eu pisei na África pela primeira vez”, escreveu Braune, em um post nas redes, exibindo fotos com a bandeira do país.
O comunicador descreveu a atmosfera como um misto de emoção e encantamento: “Viemos cobrir a possível ida de Cabo Verde à sua primeira Copa. Que momento foda. É só o começo. Pra mim, pros cabo-verdianos apaixonados, pra glória que está por vir”, publicou.
Em um vídeo, ele mostrou sua chegada ao aeroporto, tomado pela vibração dos torcedores e o carinho local e, inclusive, o encontro com uma criança que o reconheceu e disse acompanhar seu trabalho. “Um dos momentos mais mágicos da minha vida”, resumiu, diante de um cenário que mistura sonho, cultura e paixão por futebol.
As estreias africanas que inspiram Cabo Verde
A história do futebol africano é repleta de estreias que viraram lenda. A Argélia, em 1982, derrotou a Alemanha Ocidental logo no primeiro jogo. O Senegal, em 2002, venceu a então campeã mundial França e chegou às quartas de final. Em 2006, Gana estreou e foi às oitavas, eliminada pelo Brasil. Agora, Cabo Verde sonha em escrever seu próprio capítulo, buscando entrar para a história no esporte que extrapola o campo e alcança o imaginário coletivo de um país espalhado entre ilhas e continentes.




